sábado, 26 de janeiro de 2013

Nota de Esclarecimento sobre o debate com O Communard



Nota de Esclarecimento sobre o debate com O Communard:
Mentiras de um socialdemocrata perdido em pleno século XXI 

Por: Ícaro Leal Alves

Os leitores devem estar informados que nossos travamos nos últimos dias um debate de ideias honesto com o Editor de O Communard. O último e final episodio desse debate foi um epitáfio do mesmo escrito pelo mesmo Communard. Como em todo debate, o nosso contraditor que se escondeu atrás da mascara de “camaradagem” foi mais uma vez desonesto. Como vinha fazendo em todo debate mentiu e destorceu os fatos. 
            Nesse blog, onde temos um compromisso infindável com a verdade, nos vemos obrigado a esclarecer os fatos.

“O epitáfio de uma discussão impossível”


Como sabemos, nosso Communard decretou a morte desse. No decreto de nosso debatedor honesto afirma que o motivo do fuzilamento das discussões foi uma serie de comportamentos lamentáveis de nossa parte. Um deles o de não haver liberado o seu comentário lamentando o último artigo por nós publicado(1).

            No entanto, o Carrasco de nossa discussão mentiu. Ele não fez nenhum qualquer comentário no República Socialista. Todos os comentários são publicados após passarem por moderação, exceto se oferecerem conteúdo racista ou palavras de baixo-calão e ofensas pessoais.

            Os comentários do nosso Communard, por sua vez, não só estão liberados, como a prova de que ele não teve nenhum comentário barrado é que permanece disponível seu comentário em Resposta ao Connard de Lúcio jr. Resposta a qual ele minha acusa de não ser franco.


Mentira pra todo lado:

As mentiras apresentadas na nossa discussão pelo Communard fuzilador de debates não param por ai. O nosso “socialdemocrata” – como o autor em questão é denominado em Revista Cidade Sol(2) – lança suas calunias também contra Marx, Lenin e Stalin.


Marx e seu desprezo pelos camponeses


            Os bakuninistas afirmando que Marx desprezou os camponeses os tratando como reacionários tem apresentado o marxismo como uma teoria conservadora de uma elite burocratizada dos operários.

            Infelizmente nossos anarquistas estão certos, em parte. Já que o marxismo dos marxianos socialdemocratas, que é uma mentira contra Marx, é exatamente isso. Mas esse não é o marxismo-leninismo.

             A prova disso está no próprio conjunto de textos produzidos pelo Communard. Ele afirma que Marx considerava os camponeses como uma massa reacionária por suas próprias condições de vida. Será isso verdade.

            Tal analise dos camponeses aparece pela primeira-vez em Marx no Manifesto do Partido Comunista escrito em fins de 1847 e publicado no inicio 1848(3). É por tanto anterior a uma série de processos revolucionários do Ocidente e do Oriente.

            Um marxista, que se diz adepto de um método de interpretação da realidade fundamentalmente histórico poderia negligenciar esse fato e não submeter tais teses a revisão a luz dos acontecimentos posteriores? Tal comportamento é incompatível com o marxismo. E o próprio Engels o admite em um prefácio a edição posterior do manifesto.

            Também O Communard comete uma incoerência, que segundo a sua lógica o transformaria em um contrarrevolucionário. Afirma que “(...) só em raras vezes camponeses se aliaram aos proletários (como na revolução chinesa)”(4). Ora, mas se os camponeses se aliam aos proletários em uma revolução, como a chinesa, isso não faz deles revolucionários? Ou séria O Communard a se tornar contrarrevolucionário ao admitir isso? Vejamos como isso se resolve no marxismo.

            Segundo diz o Communard em o 18 de Brumário, Marx é “(...) explícito em declarar que as condições de vida dos camponeses em geral os transformava em conservadores/reacionários (sem ele excluir que há sim camponeses revolucionários).”(5)

            Essa passagem levanta duas questões: Se por suas condições de vida os camponeses em geral são reacionários como pode haver camponeses revolucionários? Se existem camponeses revolucionários porque a política de aliança operário-camponesa dos bolcheviques é uma “fraude sociológica”? Talvez O Communard estivesse tentando explicar que enquanto classes os camponeses são reacionários, mas que é possível a existência de uns poucos indivíduos camponeses revolucionários. Mas vejamos o que o próprio Marx diz em o 18 de Brumário;

“Mas, pode-se objetar: os levantes camponeses na metade da França, as investidas do exército contra os camponeses, as prisões e deportações em massa de camponeses?

“A França não experimenta, desde Luís XIV, uma semelhante perseguição de camponeses ‘por motivos demagógicos’.

            “É preciso que fique bem claro. A dinastia de Bonaparte representa não o camponês revolucionário, mas o conservador; não o camponês que luta para escapar das suas condições de existência social, a pequena propriedade, mas antes o camponês que quer consolidar a sua propriedade, não a população rural que, ligada a cidade quer derrubar a velha ordem de coisas por meio de seus próprios esforços, mas, pelo contrário, aqueles que, presos por essa velha ordem em um isolamento embrutecedor, querem ver a si próprios e a suas propriedades salvos e beneficiados pelo fantasma do Império. Bonaparte representa não o esclarecimento, mas a superstição do camponês; não o seu bom-senso, mas o seu preconceito; não o seu futuro, mas o seu passado; não a sua moderna Cevènnes, mas a sua moderna Vendée.” (6)

Depois dessa passagem brilhante, que mais podemos dizer? Marx não só afirma que Bonaparte não representa os “camponeses em geral” como quer o nosso Communard, como ele afirma que Bonaparte representa um camponês “especifico”, o camponês conservador em contraposição ao camponês revolucionário, da Cevènnes. E vai mais além, afirma que Bonaparte representa o passado conservador dos camponeses em contraposição ao seu futuro revolucionário.
            Marx fala de um camponês enquanto sujeito histórico determinado, o que nosso Communard “materialista histórico dialético” ignora, apresentando em seu lugar essa entidade metafisica que é o camponês sempre reacionário. 
            Mas Marx vai mais além e explica o porque, de naquele momento o camponês conversador triunfar sobre o revolucionário;
“Os três anos de rigoroso domínio da República parlamentar haviam liberado uma parte dos camponeses franceses da ilusão napoleônica, revolucionando-os ainda que apenas superficialmente; mas os burgueses reprimiam-nos violentamente, cada vez que se punham em movimento. Sob a República parlamentar a consciência moderna e a consciência tradicional do camponês francês disputaram a supremacia. Esse progresso tomou a forma de uma luta incessante entre os mestres-escolas e os padres. A burguesia derrotou os mestres-escolas. (...) E essa mesma burguesia clama agora contra a estupidez das massas, contra a “vile multide”, que a traiu em favor de Bonaparte. Ela própria forçou a consolidação das simpatias do campesinato pelo Império e manteve as condições que originam essa rebelião camponesa. A burguesia, é bem verdade, deve forçosamente temer a estupidez das massas enquanto essas se mantêm conservadoras, assim como a sua clarividência, tão logo se tornam revolucionária.”(7) 
Com se vê para Marx o triunfo do golpe de Estado é muito mais da responsabilidade da burguesia que afastou os camponeses da República com o massacre das forças revolucionárias. 
Esse Marx apresentado pelo Communard, que despreza os camponeses e obscurece as culpas da burguesia não existe. 
Já havíamos apresentado uma citação comprovando que a ideia da aliança operário-camponesa era do próprio Marx.
Quatro anos após escrever o 18 Brumário, que é de março de 1852, Marx escreveria uma carta a Engels, datada de 14 de abril de 1856, onde apresenta a seguinte ideia: 
“tudo na Alemanha dependerá da possibilidade de apoiar a revolução proletária por uma espécie de segunda edição da guerra dos camponeses. Então a coisa será óptima.” (8) 
Tudo dependerá da possibilidade de apoiar a revolução proletária em uma segunda edição das guerras camponesas para que a coisa toda ser ótima. Em sua argumentação sobre essa passagem o Communard afirma; “A sua citação sobre a ‘revolução proletária com uma segunda edição da guerra camponesa’ em nada confirma a ideia de que Marx defende um governo ‘proletário e camponês’, nem mesmo faz qualquer possibilidade de alusão a isso.”(9) Em sua argumentação, tudo o que falta é o argumento. Como uma citação literal do Marx real e não imaginado contradiz a minha construção de Marx eu a ignora simplesmente, essa é a lógica de sofistas socialdemocratas.


O Socialismo em um só país, mais uma vez


Já escrevemos antes nesse blog esclarecendo a questão do socialismo em um só país. Na ocasião comentávamos o artigo de Cerdeira(10). Também ele acusava Stálin de haver traído o internacionalismo ao introduzir a teoria do socialismo em um só país.  
            Logo na nossa primeira Carta Aberta ao Communard explicávamos que foi Lenin e não Stalin quem introduziu a teoria do socialismo em um só país(11). Também o site Comunidade Stálin publicou recentemente um trabalho no mesmo sentido(12). 
            Em Agosto de 1915 Lenin escreve:

“A desigualdade do desenvolvimento económico e político é uma lei absoluta do capitalismo. Daí decorre que é possível a vitória do socialismo primeiramente em poucos países ou mesmo num só país capitalista tomado por separado. O proletariado vitorioso deste país, depois de expropriar os capitalistas e de organizar a produção socialista no seu país, erguer-se-ia contra o resto do mundo, capitalista, atraindo para o seu lado as classes oprimidas dos outros países, levantando neles a insurreição contra os capitalistas, empregando, em caso de necessidade, mesmo a força das armas contra as classes exploradoras e os seus Estado.” (13) 
Em setembro de 1916 reafirma:
“O desenvolvimento do capitalismo realiza-se de modo extremamente desigual nos diversos países. Nem poder ser de outra forma na produção mercantil. Daí decorre a indiscutível conclusão de que o socialismo não pode vencer simultaneamente em todos os países. Ele vencerá inicialmente num só ou em vários países, continuando os restantes a ser, durante certo tempo, burgueses e pré-burgueses.” (14) 
Como se vê a teoria do socialismo em um só país é inaugurada por Lenin. E dela não decorre nenhuma traição, mas a simples conclusão de que o triunfo do socialismo em todos os países simultaneamente é impossível e que enquanto o socialismo triunfará inicialmente em um ou alguns países outro permaneceram “durante certo tempo”, burgueses ou pré-burgueses. 
            Nosso Communard afirma que a teoria do socialismo em um só país que ele atribui a Stalin é uma traição ao internacionalismo para encobri o fato de que ela nascerá de Lenin e foi uma resposta dos bolcheviques a traição socialdemocrta na primeira guerra mundial, quando esses apoiaram suas burguesias nacionais contra o proletariado internacional e posteriormente participaram em governos burgueses que resultaram no massacre do proletariado revolucionário em diversos países. Apesar disso, O Communard se posiciona pelos socialdemocratas em detrimento dos bolcheviques e estranhamente se senti ofendido quando lhe acusam de socialdemocrata.


Stalin e seus 30 milhões de mortos


Em outra passagem da discussão o Communard lança mais uma mentira. No primeiro documento, que deu origem ao debate. Questiona se com os arquivos em aberto seria possível manter a posição “stalinista”. Em sua resposta a mim afirma que Stalin teria matado 30 milhões de pessoas nos expurgos.

            O Communard que insinuar assim que os arquivos abertos após o fim da URSS confirmariam o extermínio por parte de Stalin de 30 milhões de Soviéticos. Isso é uma mentira deslavada e criminosa.

            Amy Knight, uma historiadora que consultou os arquivos soviéticos antes classificados afirma: 
“As estimativas anteriores sobre os números das vítimas dos expurgos, que chegavam a mais de sete milhões, mostraram agora estar inflacionadas, quando comparadas com os dados dos arquivos. Embora os números ainda não sejam absolutamente exatos, o número menor citado aqui (2 milhões) é sem dúvida mais preciso.”(15) 
Como se ver número de 30 milhões nem se quer é cogitado e o de 7 milhões é tido por inflacionado. É preciso acrescentar que os Expurgo não eram sinônimos de fuzilamento e só uma parte dos expurgados fora condenada a morte(16). 
            Hoje sabemos que muitas penas de morte na URSS foram revertidas a longas penas de prisão e só uma pequena parcela foi levada a efeito efetivamente. A inocência dos condenados no período da repressão principalmente dos julgados nos processos de Moscou está longe de estar comprovada e alguns historiadores acreditam que eles foram culpados, assim como, que os Expurgos não podem ser vistos como fenômeno uniforme resultante de um regime totalitário e sob o total controle de Stalin, mas foram muito mais o resultado de um sistema político caótico e um processo no qual a personalidade de Stalin tem pouco importância (17).


Conclusão


Longe de esgotar todas as mentiras presentes nos textos de O Communard sobre a URSS, nos apresentamos alguns pontos significativos, que demonstram, ou a ignorância ou a má fé do nosso contraditor. Esse por sua vez nos acusa de não ser franco. Precipitadamente encerrou a discussão afirmando que já tínhamos desistido da discussão. Pelo contrário tínhamos solicitado a paciência de O Communard para aguarda nossa resposta. A discussão teve infelizmente um fim trágico e a lição que fica é o quando as discussões envolvendo os contraditores do bolchevismo são pautados na mentira lançada contra os comunistas e seus simpatizantes.

            Reafirmamos que nunca agimos de forma desonesta nessa discussão. Solicitamos aos leitores que confiram o material disponível e consulte outros textos disponíveis nesse blog sobre as mentiras lançadas pela burguesia contra o comunismo (mentiras que reaparecem em um blog comunista como O Communard).


Notas


1 – O epitáfio de um debate: como stalinistas debatem com comunistas in <http://ocommunard.wordpress.com/2013/01/26/o-epitafio-de-um-debate-como-stalinitas-debatem-com-marxistas/>

2 – Lúcio Jr. Resposta ao “Connard” in <http://revistacidadesol.blogspot.com.br/2013/01/resposta-ao-connard.html>

3 – Marx e Engels, O manifesto do Partido Comunista in <http://www.marxists.org/portugues/marx/1848/ManifestoDoPartidoComunistaEmGalego/cap01.htm#I>

4 – Stalinismo em debate: resposta ao Ícaro e Lúcio Jr in <http://ocommunard.wordpress.com/2013/01/22/stalinismo-ou-o-que-debate-sobre-o-marxismo-leninismo-em-resposta-ao-icaro/>

5 - Debate: pro-stalinismo vs anti-stalinismo, a segunda resposta ao ÍCaro in <http://ocommunard.wordpress.com/2013/01/23/debate-pro-stalinismo-vs-anti-stalinsmo-a-segunda-resposta-ao-icaro-2/>

6 – Karl Marx, 18 Brumário de Luís Bonaparte in Karl Marx & Friedrich Engels Obras Escolhidas, v 1, São Paulo, editora Alfa-Omega, pp. 278.

7 – obra citada, pp. 278-279.

8 – Karl Marx, Carta a Engels (em Manchester) in <http://www.marxists.org/portugues/marx/1856/04/16.htm>

9 - Debate: pro-stalinismo vs anti-stalinismo, a segunda resposta ao ÍCaro in <http://ocommunard.wordpress.com/2013/01/23/debate-pro-stalinismo-vs-anti-stalinsmo-a-segunda-resposta-ao-icaro-2/>

10 – Ícaro Leal Alves, Alguns Problemas do Paradigma Trotskista in <<http://www.republicasocialista.blogspot.com.br/2012/11/alguns-problemas-do-paradigma-trotskista.html>>

11 – Ícaro Leal Alves, Carta Aberta aos Editores de O Communard in <<http://comunidadestalin.blogspot.com.br/2013/01/carta-aberta-aos-editores-de-o-communard.html>>

12 – Sobre as Origens do Socialismo em um só pais <<http://comunidadestalin.blogspot.com.br/2013/01/sobre-as-origens-da-teoria-do.html>>

13 - Vladimir Lênin, Sobre a Palavra de Ordem dos Estados Unidos da Europa, in V.I. LENIN OBRAS ESCOLHIDAS EM TRÊS TOMOS; V. 1. – São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1979. Páginas 569-572. Também disponível em << http://www.marxists.org/portugues/lenin/1915/08/23.htm>>.

14 - Vladimir Lênin, O Programa Militar da Revolução Proletária, in V.I. LENIN OBRAS ESCOLHIDAS EM TRÊS TOMOS; V. 1. – São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1979. Página 680. Também disponível em <http://www.marxists.org/portugues/lenin/1916/09/programa.htm>

15 – Amy Knight, Quem Matou Kirov? O maior mistério do Kremlin; tradução Sergio Mouras Rego. – Rio de Janeiro – São Paulo: Editora Record, 2001. Pp. 353

16 - Quem Matou Kirov? O maior mistério do Kremlin; tradução Sergio Mouras Rego. – Rio de Janeiro – São Paulo: Editora Record, 2001. Pp. 240.

17 - GETTY, John Arch. Origins of the Great Purges: The Soviet Communist Party Reconsidered, 1933-1938. – Cambrigde: Cambrigde University Press, 1985.   Pp. 1-3.

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