Nota de Esclarecimento sobre o debate com O
Communard:
Mentiras de um socialdemocrata perdido em pleno
século XXI
Por: Ícaro Leal Alves
Os
leitores devem estar informados que nossos travamos nos últimos dias um debate
de ideias honesto com o Editor de O Communard. O último e final episodio desse
debate foi um epitáfio do mesmo escrito pelo mesmo Communard. Como em todo
debate, o nosso contraditor que se escondeu atrás da mascara de “camaradagem”
foi mais uma vez desonesto. Como vinha fazendo em todo debate mentiu e
destorceu os fatos.
Nesse blog, onde temos um
compromisso infindável com a verdade, nos vemos obrigado a esclarecer os fatos.
“O epitáfio de uma discussão
impossível”
Como sabemos, nosso Communard decretou a morte desse. No decreto de nosso debatedor honesto afirma que o motivo do fuzilamento das discussões foi uma serie de comportamentos lamentáveis de nossa parte. Um deles o de não haver liberado o seu comentário lamentando o último artigo por nós publicado(1).
No entanto, o Carrasco de nossa discussão mentiu. Ele não fez nenhum qualquer comentário no República Socialista. Todos os comentários são publicados após passarem por moderação, exceto se oferecerem conteúdo racista ou palavras de baixo-calão e ofensas pessoais.
Os comentários do nosso Communard, por sua vez, não só estão liberados, como a prova de que ele não teve nenhum comentário barrado é que permanece disponível seu comentário em Resposta ao Connard de Lúcio jr. Resposta a qual ele minha acusa de não ser franco.
Mentira pra todo lado:
As mentiras apresentadas na nossa discussão pelo Communard fuzilador de debates não param por ai. O nosso “socialdemocrata” – como o autor em questão é denominado em Revista Cidade Sol(2) – lança suas calunias também contra Marx, Lenin e Stalin.
Marx e seu desprezo pelos camponeses
Os bakuninistas afirmando que Marx desprezou os camponeses os tratando como reacionários tem apresentado o marxismo como uma teoria conservadora de uma elite burocratizada dos operários.
Infelizmente nossos anarquistas estão certos, em parte. Já que o marxismo dos marxianos socialdemocratas, que é uma mentira contra Marx, é exatamente isso. Mas esse não é o marxismo-leninismo.
A prova disso está no próprio conjunto de textos produzidos pelo Communard. Ele afirma que Marx considerava os camponeses como uma massa reacionária por suas próprias condições de vida. Será isso verdade.
Tal analise dos camponeses aparece pela primeira-vez em Marx no Manifesto do Partido Comunista escrito em fins de 1847 e publicado no inicio 1848(3). É por tanto anterior a uma série de processos revolucionários do Ocidente e do Oriente.
Um marxista, que se diz adepto de um método de interpretação da realidade fundamentalmente histórico poderia negligenciar esse fato e não submeter tais teses a revisão a luz dos acontecimentos posteriores? Tal comportamento é incompatível com o marxismo. E o próprio Engels o admite em um prefácio a edição posterior do manifesto.
Também O Communard comete uma incoerência, que segundo a sua lógica o transformaria em um contrarrevolucionário. Afirma que “(...) só em raras vezes camponeses se aliaram aos proletários (como na revolução chinesa)”(4). Ora, mas se os camponeses se aliam aos proletários em uma revolução, como a chinesa, isso não faz deles revolucionários? Ou séria O Communard a se tornar contrarrevolucionário ao admitir isso? Vejamos como isso se resolve no marxismo.
Segundo diz o Communard em o 18 de Brumário, Marx é “(...) explícito em declarar que as condições de vida dos camponeses em geral os transformava em conservadores/reacionários (sem ele excluir que há sim camponeses revolucionários).”(5)
Essa passagem levanta duas questões: Se por suas condições de vida os camponeses em geral são reacionários como pode haver camponeses revolucionários? Se existem camponeses revolucionários porque a política de aliança operário-camponesa dos bolcheviques é uma “fraude sociológica”? Talvez O Communard estivesse tentando explicar que enquanto classes os camponeses são reacionários, mas que é possível a existência de uns poucos indivíduos camponeses revolucionários. Mas vejamos o que o próprio Marx diz em o 18 de Brumário;
“Mas, pode-se objetar: os levantes camponeses na metade da França, as investidas do exército contra os camponeses, as prisões e deportações em massa de camponeses?
“A França não experimenta, desde Luís XIV, uma semelhante perseguição de camponeses ‘por motivos demagógicos’.
“É preciso que fique bem claro. A dinastia de Bonaparte representa não o camponês revolucionário, mas o conservador; não o camponês que luta para escapar das suas condições de existência social, a pequena propriedade, mas antes o camponês que quer consolidar a sua propriedade, não a população rural que, ligada a cidade quer derrubar a velha ordem de coisas por meio de seus próprios esforços, mas, pelo contrário, aqueles que, presos por essa velha ordem em um isolamento embrutecedor, querem ver a si próprios e a suas propriedades salvos e beneficiados pelo fantasma do Império. Bonaparte representa não o esclarecimento, mas a superstição do camponês; não o seu bom-senso, mas o seu preconceito; não o seu futuro, mas o seu passado; não a sua moderna Cevènnes, mas a sua moderna Vendée.” (6)
Depois dessa passagem brilhante, que mais podemos dizer? Marx não só afirma que Bonaparte não representa os “camponeses em geral” como quer o nosso Communard, como ele afirma que Bonaparte representa um camponês “especifico”, o camponês conservador em contraposição ao camponês revolucionário, da Cevènnes. E vai mais além, afirma que Bonaparte representa o passado conservador dos camponeses em contraposição ao seu futuro revolucionário.
Marx fala de um camponês enquanto
sujeito histórico determinado, o que nosso Communard “materialista histórico
dialético” ignora, apresentando em seu lugar essa entidade metafisica que é o
camponês sempre reacionário.
Mas Marx vai mais além e explica o
porque, de naquele momento o camponês conversador triunfar sobre o
revolucionário;
“Os
três anos de rigoroso domínio da República parlamentar haviam liberado uma
parte dos camponeses franceses da ilusão napoleônica, revolucionando-os ainda
que apenas superficialmente; mas os burgueses reprimiam-nos violentamente, cada
vez que se punham em movimento. Sob a República parlamentar a consciência
moderna e a consciência tradicional do camponês francês disputaram a
supremacia. Esse progresso tomou a forma de uma luta incessante entre os
mestres-escolas e os padres. A burguesia derrotou os mestres-escolas. (...) E
essa mesma burguesia clama agora contra a estupidez das massas, contra a “vile multide”, que a traiu em favor de
Bonaparte. Ela própria forçou a consolidação das simpatias do campesinato pelo
Império e manteve as condições que originam essa rebelião camponesa. A
burguesia, é bem verdade, deve forçosamente temer a estupidez das massas
enquanto essas se mantêm conservadoras, assim como a sua clarividência, tão
logo se tornam revolucionária.”(7)
Com
se vê para Marx o triunfo do golpe de Estado é muito mais da responsabilidade
da burguesia que afastou os camponeses da República com o massacre das forças
revolucionárias.
Esse
Marx apresentado pelo Communard, que despreza os camponeses e obscurece as
culpas da burguesia não existe.
Já
havíamos apresentado uma citação comprovando que a ideia da aliança
operário-camponesa era do próprio Marx.
Quatro
anos após escrever o 18 Brumário, que é de março de 1852, Marx escreveria uma
carta a Engels, datada de 14 de abril de 1856, onde apresenta a seguinte ideia:
“tudo
na Alemanha dependerá da possibilidade de apoiar a revolução proletária por uma
espécie de segunda edição da guerra dos camponeses. Então a coisa será óptima.”
(8)
Tudo
dependerá da possibilidade de apoiar a revolução proletária em uma segunda
edição das guerras camponesas para que a coisa toda ser ótima. Em sua
argumentação sobre essa passagem o Communard afirma; “A sua citação sobre a ‘revolução
proletária com uma segunda edição da guerra camponesa’ em nada confirma a ideia
de que Marx defende um governo ‘proletário e camponês’, nem mesmo faz qualquer
possibilidade de alusão a isso.”(9) Em sua argumentação, tudo o que falta é o
argumento. Como uma citação literal do Marx real e não imaginado contradiz a
minha construção de Marx eu a ignora simplesmente, essa é a lógica de sofistas
socialdemocratas.
O Socialismo em um só país, mais
uma vez
Já
escrevemos antes nesse blog esclarecendo a questão do socialismo em um só país.
Na ocasião comentávamos o artigo de Cerdeira(10). Também ele acusava Stálin de
haver traído o internacionalismo ao introduzir a teoria do socialismo em um só
país.
Logo na nossa primeira Carta Aberta
ao Communard explicávamos que foi Lenin e não Stalin quem introduziu a teoria
do socialismo em um só país(11). Também o site Comunidade Stálin publicou
recentemente um trabalho no mesmo sentido(12).
Em Agosto de 1915 Lenin escreve:
“A desigualdade do desenvolvimento económico e político é uma lei absoluta do capitalismo. Daí decorre que é possível a vitória do socialismo primeiramente em poucos países ou mesmo num só país capitalista tomado por separado. O proletariado vitorioso deste país, depois de expropriar os capitalistas e de organizar a produção socialista no seu país, erguer-se-ia contra o resto do mundo, capitalista, atraindo para o seu lado as classes oprimidas dos outros países, levantando neles a insurreição contra os capitalistas, empregando, em caso de necessidade, mesmo a força das armas contra as classes exploradoras e os seus Estado.” (13)
Em
setembro de 1916 reafirma:
“O
desenvolvimento do capitalismo realiza-se de modo extremamente desigual nos
diversos países. Nem poder ser de outra forma na produção mercantil. Daí
decorre a indiscutível conclusão de que o socialismo não pode vencer
simultaneamente em todos os países. Ele vencerá inicialmente num só ou em
vários países, continuando os restantes a ser, durante certo tempo, burgueses e
pré-burgueses.” (14)
Como
se vê a teoria do socialismo em um só país é inaugurada por Lenin. E dela não
decorre nenhuma traição, mas a simples conclusão de que o triunfo do socialismo
em todos os países simultaneamente é impossível e que enquanto o socialismo
triunfará inicialmente em um ou alguns países outro permaneceram “durante certo
tempo”, burgueses ou pré-burgueses.
Nosso Communard afirma que a teoria
do socialismo em um só país que ele atribui a Stalin é uma traição ao
internacionalismo para encobri o fato de que ela nascerá de Lenin e foi uma
resposta dos bolcheviques a traição socialdemocrta na primeira guerra mundial,
quando esses apoiaram suas burguesias nacionais contra o proletariado
internacional e posteriormente participaram em governos burgueses que
resultaram no massacre do proletariado revolucionário em diversos países.
Apesar disso, O Communard se posiciona pelos socialdemocratas em detrimento dos
bolcheviques e estranhamente se senti ofendido quando lhe acusam de
socialdemocrata.
Stalin e seus 30 milhões de mortos
Em
outra passagem da discussão o Communard lança mais uma mentira. No primeiro
documento, que deu origem ao debate. Questiona se com os arquivos em aberto
seria possível manter a posição “stalinista”. Em sua resposta a mim afirma que
Stalin teria matado 30 milhões de pessoas nos expurgos.
O Communard que insinuar assim que os arquivos abertos após o fim da URSS confirmariam o extermínio por parte de Stalin de 30 milhões de Soviéticos. Isso é uma mentira deslavada e criminosa.
Amy Knight, uma historiadora que consultou os arquivos soviéticos antes classificados afirma:
“As
estimativas anteriores sobre os números das vítimas dos expurgos, que chegavam
a mais de sete milhões, mostraram agora estar inflacionadas, quando comparadas
com os dados dos arquivos. Embora os números ainda não sejam absolutamente
exatos, o número menor citado aqui (2 milhões) é sem dúvida mais preciso.”(15)
Como se ver número de 30 milhões nem se quer é
cogitado e o de 7 milhões é tido por inflacionado. É preciso acrescentar que os
Expurgo não eram sinônimos de fuzilamento e só uma parte dos expurgados fora
condenada a morte(16).
Hoje
sabemos que muitas penas de morte na URSS foram revertidas a longas penas de
prisão e só uma pequena parcela foi levada a efeito efetivamente. A inocência
dos condenados no período da repressão principalmente dos julgados nos
processos de Moscou está longe de estar comprovada e alguns historiadores
acreditam que eles foram culpados, assim como, que os Expurgos não podem ser
vistos como fenômeno uniforme resultante de um regime totalitário e sob o total
controle de Stalin, mas foram muito mais o resultado de um sistema político
caótico e um processo no qual a personalidade de Stalin tem pouco importância
(17).
Conclusão
Longe de esgotar todas as mentiras presentes nos
textos de O Communard sobre a URSS, nos apresentamos alguns pontos
significativos, que demonstram, ou a ignorância ou a má fé do nosso
contraditor. Esse por sua vez nos acusa de não ser franco. Precipitadamente
encerrou a discussão afirmando que já tínhamos desistido da discussão. Pelo
contrário tínhamos solicitado a paciência de O Communard para aguarda nossa
resposta. A discussão teve infelizmente um fim trágico e a lição que fica é o
quando as discussões envolvendo os contraditores do bolchevismo são pautados na
mentira lançada contra os comunistas e seus simpatizantes.
Reafirmamos que nunca agimos de forma desonesta nessa discussão. Solicitamos aos leitores que confiram o material disponível e consulte outros textos disponíveis nesse blog sobre as mentiras lançadas pela burguesia contra o comunismo (mentiras que reaparecem em um blog comunista como O Communard).
Notas
1 – O epitáfio de um debate: como stalinistas debatem com comunistas in <http://ocommunard.wordpress.com/2013/01/26/o-epitafio-de-um-debate-como-stalinitas-debatem-com-marxistas/>
2 – Lúcio Jr. Resposta ao “Connard” in <http://revistacidadesol.blogspot.com.br/2013/01/resposta-ao-connard.html>
3 – Marx e Engels, O manifesto do Partido Comunista in <http://www.marxists.org/portugues/marx/1848/ManifestoDoPartidoComunistaEmGalego/cap01.htm#I>
4 – Stalinismo em debate: resposta ao Ícaro e Lúcio Jr in <http://ocommunard.wordpress.com/2013/01/22/stalinismo-ou-o-que-debate-sobre-o-marxismo-leninismo-em-resposta-ao-icaro/>
5 - Debate: pro-stalinismo vs anti-stalinismo, a segunda resposta ao ÍCaro in <http://ocommunard.wordpress.com/2013/01/23/debate-pro-stalinismo-vs-anti-stalinsmo-a-segunda-resposta-ao-icaro-2/>
6 – Karl Marx, 18 Brumário de Luís Bonaparte in Karl Marx & Friedrich Engels Obras Escolhidas, v 1, São Paulo, editora Alfa-Omega, pp. 278.
7 – obra citada, pp. 278-279.
8 – Karl Marx, Carta a Engels (em Manchester) in <http://www.marxists.org/portugues/marx/1856/04/16.htm>
9 - Debate: pro-stalinismo vs anti-stalinismo, a segunda resposta ao ÍCaro in <http://ocommunard.wordpress.com/2013/01/23/debate-pro-stalinismo-vs-anti-stalinsmo-a-segunda-resposta-ao-icaro-2/>
10 – Ícaro Leal Alves, Alguns Problemas do Paradigma Trotskista in <<http://www.republicasocialista.blogspot.com.br/2012/11/alguns-problemas-do-paradigma-trotskista.html>>
11 – Ícaro Leal Alves, Carta Aberta aos Editores de O Communard in <<http://comunidadestalin.blogspot.com.br/2013/01/carta-aberta-aos-editores-de-o-communard.html>>
12 – Sobre as Origens do Socialismo em um só pais <<http://comunidadestalin.blogspot.com.br/2013/01/sobre-as-origens-da-teoria-do.html>>
13 - Vladimir Lênin, Sobre a Palavra de Ordem dos Estados Unidos da Europa, in V.I. LENIN OBRAS ESCOLHIDAS EM TRÊS TOMOS; V. 1. – São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1979. Páginas 569-572. Também disponível em << http://www.marxists.org/portugues/lenin/1915/08/23.htm>>.
14 - Vladimir Lênin, O Programa Militar da Revolução Proletária, in V.I. LENIN OBRAS ESCOLHIDAS EM TRÊS TOMOS; V. 1. – São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1979. Página 680. Também disponível em <http://www.marxists.org/portugues/lenin/1916/09/programa.htm>
15 – Amy Knight, Quem Matou Kirov? O maior mistério do Kremlin; tradução Sergio Mouras Rego. – Rio de Janeiro – São Paulo: Editora Record, 2001. Pp. 353
16 - Quem Matou Kirov? O maior mistério do Kremlin; tradução Sergio Mouras Rego. – Rio de Janeiro – São Paulo: Editora Record, 2001. Pp. 240.
17 - GETTY, John Arch. Origins of the Great Purges: The Soviet Communist Party Reconsidered, 1933-1938. – Cambrigde: Cambrigde University Press, 1985. Pp. 1-3.
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