A Campanha da Imprensa Imperialista Contra a Morte
Pela Fome na Coreia do Norte
Por: Ícaro Leal Alves
Crianças Norte-coreanas fonte - http://www.facebook.com/SolidariedadeACoreiaPopular
Acabei
de ler no portal Centro do Socialismo um texto muito interessante intitulado “a
mídia capitalista e a Coreia do Norte”, onde o autor problematiza a intensa
campanha midiática anti-norte-coreia. Em um trecho que me chamou
particularmente a atenção o autor afirma:
“Suponhamos
que fosse verdade. Que a fome tivesse assumido um grau tão amplo no país que o
canibalismo tivesse se tornado um hábito comum. Então, eu digo que o ocidente
seria um dos principais culpados por isso. Afinal, a ONU tolera as sanções
econômicas impostas pelos Estados Unidos e seus aliados ao povo coreano,
sanções que prejudicam terrivelmente a economia do país. Mesmo que o governo da
Coreia fosse tão maligno como prega a propaganda ocidental, não seria melhor
evitar medidas que possam prejudicar a qualidade de vida dos coreanos? Que
culpa os coreanos tem do ocidente não gostar do seu governo?”
O
autor estava se referindo a notícia, divulgada recentemente por uma agência
japonesa que relatava casos de canibalismo na Coreia do Norte (a República Popular
e Democrática da Coreia) e particularmente um caso onde um pai, após matar e
comer seus dois filhos, foi submetido a pena de fuzilamento. Segundo diz a
reportagem o motivo da onda de canibalismo generalizado no país é uma intensa
crise de fome que teria vitimado pelo menos 10 mil pessoas só no ano passado (somente nas províncias de Hwanghae Norte e Sul).
Assim
como o autor do primeiro texto mencionado, não pretendo fazer propaganda do
governo norte-coreano. Meu único objetivo é me questionar sobre a veracidade de
tais relatos. Afinal de contas a desinformação e a demonização desse país, do
qual, tão pouco sabemos (eu pelo menos sei muito pouco) é uma constante.
Recordo-me da morte do antigo presidente daquela república, Kim Jung Il, há
dois anos. A imprensa Brasileira surpresa, parecia perplexa ao transmitir cenas
de norte-coreanos e norte-coreanas chorando desesperadamente a morte do tão
temível ditador. Dois dias depois, se não me engano, os mesmos jornalistas
antes aturdidos, agora anunciavam triunfantes a revelação dos motivos do pranto
desesperado. Em uma matéria, onde só faltaram efeitos pirotécnicos para
completar a orgia de sensacionalismo desavergonhado, o Jornal Nacional noticiava
que o governo “comunista” (essa referência não podia faltar) havia ordenados o
pranto, afirmando que quem não chorasse passaria 6 meses em campos de trabalhos
forçados. Senão por mais nada, somente o absurdo da notícia me parece
suficiente para desmenti-la. Coagir uma população inteira de 24 milhões de
pessoas com a ameaça da deportação para campos de trabalhos caso elas não
chorassem? Mas, ainda havia mais. Após todo o show, ao finzinho da matéria,
quase timidamente, o ancora do jornal anuncia; a informação fora fornecida por
um órgão de imprensa do governo sul-coreano, que por sua vez não indicou qualquer
fonte. A piada está completa. O jornal mais visto do país anuncia com efeitos
sensacionais uma informação tão comprometedora sobre um governo, cuja única
fonte é o Estado rival, que há 50 anos está em estado de guerra com esse e que
não indica qualquer fonte oficial capaz de comprovar o que diz. Obvio que o
efeito sensacionalista supera a factibilidade. E esse “detalhe” pode passar e sem
dúvidas passou despercebido à maioria dos que assistiram ao telejornal.
Por
esse e outros motivos decide buscar as evidências primárias que me permitissem
avaliar com mais objetividade a situação da crise alimentar na Coreia
Democrática e Popular. Não tenho nem mesmo o objetivo de negar que ela exista
ou que o governo daquele país ainda tenha que avançar muito nesse ponto
fundamental, já que os índices de desnutrição e de mortalidade infantil deixam
claro que ainda existe muito que se fazer nesse campo. Porém, seria mesmo tão
desesperadora a situação, que as pessoas necessitem comer seus próprios filhos,
ou os avos desenterrarem os corpos dos seus netos? A fome seria tão grave ao
ponto de generalizar o canibalismo entre a população? E mais, é legitima toda a
campanha de ódio da imprensa contra o regime de “monarquia comunista”, que
impõe a fome? Vamos aos dados.
Na
matéria citada, aponta-se que pelo menos 10 mil pessoas morreram de fome no ano
passado. Curiosamente os dados oficiais disponíveis na internet demonstram que
o índice de mortalidade na Coreia do Norte não é maior do que, por exemplo, o
do Reino Unido e o de Portugal. Enquanto o do primeiro país (país tema desse
texto) é de 9,12 mortes por 1.000 habitantes (dados de julho de 2011) o de
Reino Unido e Portugal são, respectivamente, 9,33 mortes por 1.000 habitantes e
10,86 mortes por 1.000 habitantes (dados do mesmo período). Ora, se a
“monarquia comunista dos Kim” pode ser condenada mundialmente e escarnecida na
imprensa por sua mortalidade generalizada, por que a monarquia inglesa, que
ostenta índices de mortalidade ainda maiores não deve ser vitima do mesmo
opróbio? Ou Portugal, cuja mortalidade supera a do Reino Unido?
Também
observamos que os dados oficiais dão conta de confirmar que a Coreia do Norte,
no fator taxa de mortalidade não esta muito pior do que os Estados Unidos, a
maior potência mundial, líder econômica e que impôs o bloqueio econômico ao
pequeno país anti-imperialista. Na superpotência o índice de mortalidade é de
8,39 mortes por cada 1.000 habitantes (dados de julho de 2011). Obvio que nesse
país os motivos da morte são bem diferentes. Nos Estados Unidos as mortes por
arma de fogo têm, sem dúvida, um peso muito maior, mas longe de se condenar os
defensores do porte de armas como monstros que impõe a morte, a imprensa
internacional propagandeia a mentira aberrante que controle de armas é sinônimo
de fascismo.
Se
se compara a situação da mortalidade com outros países desenvolvidos como
Espanha e França, a Coreia não se parece com um campo da morte. Nesses países o
índice também se mantem acima de 8 mortes por 1.000 habitantes e mesmo se
aproximando dos 9.
Outro
dado surpreendente é que a expectativa média de vida do norte-coreano é de 69,2
anos. Expectativa de um país desenvolvido, que não supera a de nenhum dos
países mencionados, mas que dá uma boa ideia do destino que separa os povos do
mundo colonial que decidiram ser livres, como esse, dos que preferiram, ou,
caíram sob a “proteção” da “democracia internacional” como o Afeganistão, onde
a expectativa média de vida é de 49,72 anos, chegando à somente 48,45 anos para
os homens. Nesse país, que a imperialismo decidiu libertar e proteger, há 12
anos, o índice de mortalidade é de 14,59 mortes por 1.000 habitantes (dados de
julho de 2011). Estaria a campanha de massas da mídia ocidental preparando o
ambiente para esse tipo de libertação a americana?
Ao
refletir sobre esses dados é bom ter em mente que aqui comparamos um país que há
menos de um século deixou, como decorrência de um imenso movimento popular, de
ser uma colônia do império japonês, que, em consequência de sua opção pela
liberdade e a autodeterminação teve seu território dividido e seu povo
massacrado em uma das mais sangrentas guerras da história do século XX – guerra
levada a cabo pelo mesmo império que até nossos dias submete esse país, pequeno
e isolado a um terrível embargo econômico – com países capitalistas (e
imperialistas) desenvolvidos (exceção feita ao Afeganistão). Também não podemos
esquecer que todas as campanhas de intervenção militar no último século foram
antecedidas de intensa campanha midiática de difamação e demonização, cuja única
novidade é o poder cada vez mais crescente de propagação.
O
imperialismo prepara novos derramamentos de sangue injustificáveis, a mentira é
a arma que antecede os fuzis e as metralhadoras.
Solidariedade
ao Povo Norte Coreano que tem o direito de ser livre e Soberano.
P.S:
Segundo informações dos organizadores do Site Solidariedade a Coreia Popular as
próprias autoridades da Coreia do Norte admitem que houve fome no país entre
1990 e 2000, como decorrência da perda dos principais parceiros econômicos (URSS
e países do Leste da Europa) combinada a uma série de catástrofes naturais. Esse
período é conhecido no país como a “Árdua Marcha” e já está encerrado.
Referências: